"Ponto de vista": Caetano, Costa Gomes, e Spínola.

Caetano, Costa Gomes, e Spínola.

    Três personagens que em três meses, de Janeiro a Março de 1974, tiveram um papel relevante na História de Portugal, mas que não terá sido até agora suficientemente estudado: Marcelo Caetano, Costa Gomes, e Spínola.
     Plenos de contradições e de indefinições quanto ao que pensariam fazer e ao que efectivamente concretizaram, acabaram por revelar grandes indecisões quanto ao que poderiam fazer quanto ao futuro de Portugal, sendo mais arrastados pelos acontecimentos do que intervenientes determinantes.
     Marcelo Caetano já em princípios de Outubro de 1973 confidenciava a um alto quadro da Administração Pública que se sentia muito desanimado pelo rumo dos acontecimentos e sem força anímica nem política para intervir no problema dos territórios sob administração portuguesa, conforme me foi confidenciado por testemunha presencial do encontro em que tal desabafo ocorreu.
     Em notório desacordo com as perspectivas de Spínola sobre a questão colonial, designa-o contudo para o novo cargo expressamente criado de Vice-Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, sob a dependência do então General Costa Gomes, cujos pontos de vista sobre a mesma questão estavam longe de ser claros.
     Pouco tempo depois acederia a receber oficiais destacados dos quadros intermédios da Forças Armadas, ligados ao movimento de natureza conspirativa que então vinha a tomar forma mais organizada, recusando-se porém a considerá-los como interlocutores credenciados e afirmando-lhes que só dialogaria com a hierarquia militar.
     Aceita em meados de Fevereiro a publicação do livro de Spínola "Portugal e o futuro", refugiando-se num parecer positivo de Costa Gomes sobre a obra em causa.
     E recebe na sua residência, logo a seguir, Costa Gomes e Spínola, onde reconhece não ter seguido o caminho certo na resolução do problema ultramarino, dizendo que a única solução seria a de aqueles Oficiais-Generais solicitarem ao Presidente da República a demissão do Presidente do Conselho prontificando-se para assumirem o poder (não sendo claro quanto à forma de tal ocorrer) - solução recusada por ambos.
     Mas após a reunião, em 5 de Março, de quase 200 oficiais em Cascais, em que foi manifestado um indisfarçável apoio a hipóteses de uma maior intervenção militar sob a direcção de Costa Gomes e Spínola, promove a realização em 13 de Março de uma manifestação de apoio dos oficiais-generais à política governamental, a que apenas faltaram Costa Gomes, Spínola, e Tierno Bagulho.
     E no dia seguinte demite Costa Gomes e Spínola dos cargos que desempenhavam, atitude que terá contribuído decisivamente para a sublevação militar de 16 de Março, que para além da prisão dos oficiais participantes apenas deu origem a algumas transferências compulsivas de oficiais indiciados como participantes no movimento conspirativo.
     Por outro lado, ao longo deste período - e até à eclosão do golpe militar de 25 de Abril - o contacto entre aqueles dois Oficiais-Generais e os dirigentes da conspiração militar pautou-se por um notório distanciamento por parte de Costa Gomes e de Spínola, o que se até à sua demissão poderia ser compreensível, já depois de 14 de Março demonstra algum desejo de não comprometimento, ainda bem visível na manhã e princípio da tarde de 25 de Abril.
     Ou seja, recusando tomar o poder em Fevereiro, acabaram por ter que o tomar em Abril.

Só que noutras circunstâncias...

14.Dezembro.2014.
(Revisto em 6.Fev.2017)