O povo alemão e a Europa.
Dentro de poucos dias celebra-se um quarto de século sobre a queda do Muro de Berlim, que provocou a aceleração do processo de reunificação alemã, concretizado alguns meses depois e levando a então República Federal da Alemanha a um enorme esforço visando a plena integração da República Democrática da Alemanha, empenhamento que foi adequadamente apoiado pelas Comunidades Europeias e que acelerou o processo de construção da própria União Europeia, logo em 1992.
Já no início dos anos 50 a comunidade internacional tinha procurado ajudar o processo de reconstrução da Alemanha, não tendo faltado um perdão parcial da dívida e a permissão do seu faseamento por algumas décadas, possibilitando assim uma recuperação gradual e segura das ruínas em que tinha ficado após o termo da guerra mundial.
O povo alemão está por certo consciente do facto de ter sido decisivamente ajudado a reerguer-se e a conseguir a sua reunificação, apesar de permanecer na memória colectiva a lembrança dos terríveis extermínios colectivos que iria manchar a imagem da Alemanha.
Esta mancha, bem como a memória da inflação louca da década de 20, a consciência de em grande parte ter sido responsável pelo desencadear do conflito mundial, e o trabalho árduo de reconstrução em que teve que se empenhar, marcam decisivamente o pensamento colectivo do povo alemão, e ajudam a compreender as posições que tem vindo a tomar na comunidade internacional e em particular na União Europeia.
Permitem perceber melhor a relutância em participar em operações militares, a preocupação com a estabilidade orçamental, o empenhamento no trabalho e no esforço árduo, e a pouca apetência para assumir posições preponderantes na política mundial e europeia - esta, com a ressalva de considerar o equilíbrio orçamental como a chave do desenvolvimento económico.
Pressente-se contudo que apesar das posições de aparente irredutibilidade nesta última questão a Alemanha não deixará de ceder - até certos limites - caso pressinta que poderá vir a ficar isolada, o que de modo algum desejará que possa vir a ocorrer.
J.C.Juncker, M.Draghi, M.Renzi, e mesmo o próprio F.Hollande já o pressentiram.
Em Portugal, Artur Santos Silva acaba de o recordar.
Outros que se juntem, e sentiremos a evolução.
26.Outubro.2014.