"Ponto de vista": Um exemplo de incultura jornalística na Internet.


   Um exemplo de incultura jornalística na Internet.

Aquando das inundações provocadas em Houston pelo furacão Harvey um sítio na Internet que claramente se identifica como satírico - a "America's last line of Defense" - publicou uma "notícia" que apresentava a fotografia de um Iman referindo que este clérigo muçulmano enquanto responsável por uma mesquita tinha recusado abrigar pessoas desalojadas, argumentando que o Islão proibia que se ajudassem "infiéis".

E, apesar de o sítio em causa referir claramente tratar-se de uma publicação satírica "que por vezes parece estar a dizer a verdade", mas assegurando que tal "não correspondia à verdade", cerca de 126000 pessoas reexpediram a notícia a outrem.

Entretanto o retratado clérigo tomou conhecimento da notícia, e prontamente a desmentiu, referindo não só nada ter a ver com Houston - pois é canadiano - acrescentando que nas datas citadas na notícia estava na peregrinação a Meca.

O que é espantoso é a existência de tanta gente que difunde uma notícia cuja falta de veracidade salta à vista, sem procurar verificar os dados dela constantes, acrescendo que a net-publicação em causa claramente refere a sua base satírica, destacando ser composta essencialmente por notícias bem longe da verdade.

O automatismo de reexpedição que se constata actualmente nas "redes sociais" tem vindo a aumentar, e por consequência a encher de lixo o espaço internético, sem se notar claramente a presença de intervenientes que exerçam uma função didáctica que induza os navegadores a procurar saber como separar o que é provavelmente falso.

Com o aumento das capacidade de manipulação no mundo do audio-visual estamos a entrar num mundo em que cada vez mais devemos ter o maior cuidado em verificar se aquilo que chega ao nosso conhecimento é credível, e em caso negativo tentar intervir no sentido da sua correcção, pois doutro modo as vantagens que estamos a obter através do crescimento exponencial da informação disponível serão progressivamente dificultadas pelo tempo e recursos gastos na verificação da respectiva credibilidade.

E uma consequência do mundo de dúvidas em que estamos a entrar é claramente o risco para os sistemas democráticos, que apenas subsistem quando a informação circulante é credível e verificável, bem como com o maior grau de liberdade possível.

17.Setembro.2017.