"Ponto de vista" - Jovens: cépticos quanto à democracia ?


   Jovens: cépticos quanto à democracia ?

Recente inquérito a 6 mil jovens europeus, realizado por uma Fundação com credibilidade nesta matéria (TUI), mostra que quase metade dos inquiridos é céptico quanto à democracia.

A juventude alvo da sondagem era originária do Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Espanha, Polónia, e Grécia, situando-se os mais cépticos em Itália, Polónia, e França, e os mais favoráveis na Alemanha e na Grécia.

No que respeita à União Europeia, 3 em cada 4 crê que assenta mais na cooperação económica do que no respeito pelos ideias do projecto europeu,  um terço deseja que o poder político regresse aos governos nacionais, e cerca de 20% pensa que o seu país deveria sair da União.

Dir-se-á que a maioria ainda é pró-democracia e a favor da União Europeia.

Porém, aqui o que importa reter é que nos estamos a referir à juventude, que em teoria deveria estar a favorecer de modo mais acentuado os ideais democráticos e os de uma União cujos propósitos fundamentais assentam precisamente naqueles valores.

Ao esquecer que uma muito maior mobilidade dos cidadãos, em particular dos mais jovens, poderia e deveria fomentar uma maior aproximação aos ideais de uma união dos povos europeus, as Instituições que estiveram na base da criação da actual União Europeia, ao apostarem  prioritariamente num mercado comum, e posteriormente numa moeda única, fracassaram quando os cidadãos dos diversos Estados-membros continuaram na sua grande maioria sem verdadeiramente se conhecerem uns aos outros, pois a liberdade de circulação - embora existente - não era suficientemente incentivada para que tal pudesse ocorrer de modo mais sólido, e nomeadamente na juventude.

A evolução das tendências políticas que tem vindo a ser constatada na Europa confirma a existência do erro estrutural de se ter esquecido o objectivo de as pessoas deverem ser os alvos primordiais da Política, que não se esgota ao nível das macro-instituições como o são os Estados e as Uniões de Estados, pois a própria organização do sistema democrático tem que ser reformulada de modo a que o princípio da Representação passe a ser acompanhado pelo da Participação presencial.

Tarefa difícil, cada vez mais difícil, pois os cada vez maiores fluxos de informação telemática e televisiva levam a maiores isolamentos presenciais, com - é certo - mais informação disponível, mas com menos tempo para a discutir presencialmente, algo bem diferente de uma troca de impressões através de um "mediador informático", que sendo útil e sempre preferível à respectiva ausência, não substitui o contacto directo mesmo que possa vir a evoluir para formas sofisticadas de presença virtual.

Assim, tanto o estado da União Europeia, como o da Democracia, devem ser analisados à luz de um regresso às origens que tenha sempre presente o lema "primeiro as pessoas".

Processo lento, é certo. Mas doutro modo a União passará a Confederação, e diversos dos seus Estados-membros poderão regredir no que respeita à saúde do respectivo sistema democrático.

7.Maio.2017.