"Ponto de vista" - Liberdade de Imprensa nos EUA: indícios preocupantes.


   Liberdade de Imprensa nos EUA: indícios preocupantes.

O espectáculo em que, há uma semana, D.Trump ("The Trwitter") exibiu toda a sua aversão a críticas negativas da Imprensa, acaba de ter o seu complemento no habitual encontro ("briefing") que o Adido de Imprensa da Presidência, Sean Spicer, tem com os Jornalistas.

Complemento, porquê ? Porque pela primeira vez neste tipo de contactos foi barrada a entrada a diversos correspondentes de órgãos de informação pública geralmente considerados como tendo uma política editorial negativamente crítica relativamente à acção de D.Trump e do seu Gabinete - isto é, do seu Governo.

Entre os excluídos encontravam-se, por exemplo, o New York Times e a CNN, tendo tal facto levado a que outros, sabedores de tal decisão, tivessem decidido não estar presentes. Foi o caso da Associated Press e da Time - só para citar alguns - enquanto outros, mesmo dos "bem-vistos" declararam que se tivessem sabido também não teriam estado presentes.

Anote-se entretanto que a qualidade profissional e política do Adido Spicer (e não só dele) pode ser bem avaliada pelas suas intervenções, reproduzidas nas net-páginas* oficiais da Casa Branca, pois ao citar as pessoas presentes numa importante reunião para debater a política fiscal com o Presidente, as refere pela seguinte ordem:

"Joining the meeting were Reince Priebus, the Chief of Staff; Steve Bannon; Jared Kushner; Gary Cohn, the Director of the National Economic Council; Secretary Steve Mnuchin of the Department of Treasury; (...) ".

Ou seja, revela implicitamente o grau de influência que, como dedicado serventuário, atribui a um Ministro das Finanças ("Secretary Steve Mnuchin") não o colocando em primeiro lugar na lista dos presentes (não se tratava de matéria fiscal ?), e - mais relevante ainda - colocando em lugar de relevo prioritário S.Bannon e J.Kuschner, facto bem revelador da importância que no seu pobre espírito devia atribuír (quiçá e sob outra perspectiva com alguma razão, o que até é mais preocupante) a dois conselheiros, cujos perfis são aliás bem conhecidos).

Declarando guerra à Imprensa que não o louva e que procura demonstrar discordância quer quanto a afirmações não fundamentadas, quer sobre acções ou intenções executadas ou apresentadas, D.Trump envereda por um caminho estranho, que já provocou reacções firmes por parte de personalidades bem conhecidas como o Senador J.McCain, citadas já nestas páginas, percurso esse de que o recente picante episódio Spiceriano é um triste episódio.

E, para coroar este ramalhete - que não irá provavelmente ter um final feliz - D.Trump acaba de "Trwittar" que não estará (rompendo com uma tradição de há muitos anos) no jantar anual dos correspondentes de Imprensa, em Abril ...

V.Putin, T.Erdogan, em percursos para-ditatoriais e com métodos de persuasão muito especiais em favor de uma verdade "oficial", estarão por certo deliciados com o espectáculo a que se assiste nos EUA.

Ou estarão, no fundo, preocupados com as inconsistências potencialmente decorrentes do comportamento de uma personalidade egocêntrica e instável ?

Entretanto, a mais recente sondagem de opinião da Marist (respeitado Instituto nesta área) indica que mais de 60% dos cidadãos dos EUA entende que a conduta de D.Trump é embaraçosa.

26.Fevereiro.2017


*   https://www.whitehouse.gov/the-press-office/2017/02/22/press-briefing-press-secretary-sean-spicer-2222017-14