"Ponto de vista": "Stand up, Europe! "


   "Stand up, Europe!"

A "Brexit" - e agora uma espécie de "USexit", mesmo que temporária - podem vir a assinalar o termo de de uma certa "Pax Americana" de três quartos de século, ou, noutra perspectiva, de um século de declínio da influência euro-norte-americana no mundo.

Dos Britânicos (a "pérfida Albion") nada nos surpreende, se pensarmos que sempre pautaram os seus interesses por uma perspectiva egocentrista, que sendo natural em qualquer povo no seu caso teve quase sempre constante uma visão em que a colaboração com outros não procurava a obtenção de ganhos mútuos mas sim e preferencialmente a de vantagens para o seu campo - tal como se viu com o famoso dito de Margaret Thatcher "We want our money back".

Ou seja, aliados nos negócios sim, mas só se não perdermos dinheiro...

Tal perspectiva veio agora à tona também nos EUA, em que a eleição de D.Trump "Trwitter" foi em grande parte devida à ideia de que o dinheiro e os empregos tinham diminuído para os americanos devido à globalização e à imigração, esquecendo - tal como muitos britânicos - que o comércio bem regulado é sempre fonte de crescimento mundial, em que porém os mais inovadores obtêm mais ganhos dos que o que se limitam às rotinas diárias.

Assistimos agora ao simbolismo de D."Trwitter" convidar em primeiro lugar Theresa May para o tradicional início de conversações com os mais altos representantes do poder político a nível mundial, aliás na sequência da indecorosa afirmação de aplauso à Brexit, relegando a União Europeia para um lugar secundário - além de se referir à OTAN como uma organização obsoleta - e só lhe faltando concretizar a já aventada hipótese de um encontro na Islândia com V.Putin (em que este e de um modo bem diferente do tom de M.Gorbatchov para R.Reagan - também na Islândia, em 1986 - por certo lhe solicitaria a  diminuição das forças militares na Polónia e nos Estados bálticos bem como o desmantelamento do sistema de detecção de mísseis instalado junto às suas fronteiras e no Mediterrâneo em troco da Crimeia, de Donetsk, e de uma omnipresente instalação em Tartus, tudo isso em troca do aumento da participação na luta com contra o extremismo islâmico).

E, perante isto, que fazem os responsáveis pela União Europeia, além de assistirem aos estudos da Conissão Europeia por exemplo sobre a evolução do consumo de peixe (conforme consta de uma das suas recentes publicações diárias) ... ?

Esperar-se-ia, no mínimo, a realização de uma sessão extraordinária do Conselho Europeu em que se analisassem as relações com os Estados Unidos e com o Reino (igualmente, ou talvez não) Unido, bem como com a Rússia, a China, a Índia e o Paquistão, bem como a situação no Médio Oriente, na Ucrânia e no Mediterrâneo Sul; e, ainda, as tendências euro-cépticas e extremistas no seio da União, sem esquecer a análise da situação imigratória.

Isto tudo, visando recordar aos europeus que os "guarda-chuvas" nucleares dos EUA e do Reino Unido, bem como as respectivas forças militares, tenderão nos próximos dois a três anos a estarem ao serviço quase exclusivo daqueles Estados, sendo necessário pensar-se em sacrifícios no nível de vida para que se possam obter e manter dispositivos dissuasores de perturbações ainda piores para a sustentação do nosso modo de vida actual, mesmo que algo minorado.

"Stand up, Europe ! "

22.Janeiro.2017