"Ponto de vista": Os futuros da Democracia.


   Os futuros da Democracia.

Sim, são diversas as encruzilhadas que se nos deparam quanto ao futuro da Democracia, e que ciclicamente surgem, alimentadas por novos factores, muitas vezes imprevisíveis.

E as recentes eleições presidenciais nos EUA acabam de contribuir com um novo factor, que irá ser presença constante em escolhas semelhantes que irão ocorrer: o enorme aumento da informação electrónica "horizontal" entre os cidadãos, que se vem adicionar ao poder que as cadeias de televisão tinham vindo a introduzir no decorrer das campanhas eleitorais.

E se nas eleições presidenciais que deram a vitória a B.Obama o que foi mais relevante terá sido o uso das então ainda algo incipientes redes de informação electrónica para fazer circular mensagens que escapavam ao "controle" das estações de televisão, na eleição de D.Trump ficou patente a sua utilização para fazer circular boatos e histórias falsas conforme acaba de ser comprovado por fontes de alta credibilidade no Scientific American e no The Conversation.

Evidentemente que não é possível verificar se as notícias falsas injectadas no Facebook (fonte de quase 50% dos cidadãos dos EUA no que respeita à informação noticiosa) favoreceram ou não uma das candidaturas, mas existe uma alta correlação entre afirmações notoriamente infundadas de D.Trump e o teor de boatos circulantes na Internet - nomeadamente no (ou na) Facebook.

Isto, aliado à quase ausência de temas essenciais - referida em importante estudo da Tyndall - nas cadeias de TV quanto a discussão pública e entre candidaturas, preteridos pelas pequenas historietas sobre a personalidade dos concorrentes, causa profunda preocupação sobre o futuro da democracia representativa, cada vez mais longe do desejável misto de participação-representação que a deveria caracterizar.

Não se podendo limitar os efeitos deletérios da predominância do fútil e do falso - ou, pelo menos, do que não é comprovado ou comprovável - na crescente circulação da informação "horizontal", bem como em muitas cadeias de televisão, como devem actuar os detentores do poder político que porventura reconheçam que não devem pactuar com a cada vez maior alienação de muitos cidadãos?

O caminho estaria no fomento da participação política e cívica dos cidadãos a nível local, em que os processos de eleição dos seus representantes fossem centrados a tal nível, obrigando ao aumento do contacto directo, representantes esses que por seu turno fossem parte importante nos processos de escolha de responsáveis a nível superior.

E tal fomento, como se obteria ? Pelo aumento das atribuições, competências, e recursos a tal nível. o que possibilitaria a prevalência do diálogo presencial - a fonte primária da democracia.

A alternativa é a representação teatral, em que os mais hábeis em comícios e na Tv, sustentados por massas de informação não verificável, podem prevalecer e arrastar os seus seguidores para caminhos cujos efeitos nefastos já conhecemos da História - mesmo da mais recente.

20.Novembro.2016