"Ponto de vista" - Comemorações do Dia da Liberdade: o início de um novo ciclo.?


  Comemorações do Dia da Liberdade: o início de um novo ciclo?

Comemoraram-se há uma semana, em 25 de Abril, as datas da entrada em vigor, há 40 anos, da Constituição da República de 1976 e das primeiras eleições democráticas (isto é, com prévio recenseamento eleitoral universal e consequente sufrágio - obvia e igualmente universal) ocorridas em Portugal.

É assim tempo, estabilizado que está o regime político democrático, de se passar a comemorar a data de 25 de Abril numa perspectiva que, sem deixar de assinalar a data em que se deu origem à reconquista da liberdade política, marque o desejo de que tal liberdade contribua para melhorar as condições de vida no nosso País, atavicamente preso a um sistema que ao ser caracterizado por uma recorrente emigração, e por situações de extrema pobreza e de disparidades socio-económicas e culturais, se auto-definiu assim como sistematicamente incapaz de aproveitar adequadamente os seus recursos e de os redistribuir com justiça.

As datas de dias feriados comemorativos de momentos políticos com significado nacional - 10 de Junho, 5 de Outubro, 1 de Dezembro, e 25 de Abril - foram "absorvidas" pelo povo, que olha para os factos simbólicos a elas associados com a maturidade que se traduz quanto às mais antigas por uma benevolente contemplação dos actos públicos a elas associados, sem se traduzir por particular entusiasmo.

E o mesmo irá talvez ocorrer com a data mais recente, à medida que a geração que mais intensamente a viveu der lugar às mais novas, para quem a Liberdade já será sentida como algo de natural, tal como sucede com a forma republicana do Estado ou a independência enquanto Nação soberana.

E, tal como a minha geração, profundamente republicana e ciosa da sua independência face a Espanha e ao mundo, se limitava a acompanhar as notícias sobre as poucas manifestações oficiais de tais datas, é possível que progressivamente o mesmo venha a suceder com a do dia da Liberdade.

E, porém, é a que mais marca o desejo dos cidadãos de intervirem politicamente, pois tem um significado que sem deixar de ser nacional é o que também afirma o desejo da igualdade perante a lei, e os da fraternidade e solidariedade social.

As gerações mais jovens, que sentem mais as novas dificuldades que as mais recentes não viveram de modo tão acentuado, devem assim ser convidadas a celebrar tal dia sob uma perspectiva de um empenhamento em que a Liberdade não só não desapareça mas também que seja usada no sentido de proporcionar mais Fraternidade.

Doutro modo apenas teremos daqui a duas gerações, em termos comemorativos, uma outra versão das romagens em 5 de Outubro às sepulturas dos revolucionários de 1910, porém e também aos cemitérios onde estejam restos mortais de personalidades envolvidas nos processos que levaram à adopção da Constituição de 1976...

1.Maio.2016.