"Ponto de vista": A "União" Europeia e o Reino Unido.


   A "União" Europeia e o Reino Unido.

Há 3 anos, aquando das eleições para o Parlamento do Reino Unido, D.Cameron prometeu que caso o seu Partido as ganhasse convocaria um referendo sobre a manutenção do Reino na União Europeia, tendo declarado recentemente que tal consulta ocorrerá em 2017.

Entretanto nos últimos meses desencadeou uma ofensiva política centrada na ideia de que defenderia a continuação do Reino Unido na União caso esta adoptasse um importante conjunto de disposições por ele consideradas fundamentais, tendo então desencadeado um processo de consultas com altos responsáveis da UE, que culminou com um projecto apresentado por D.Tusk, Presidente do Conselho Europeu.

Este projecto deverá ser apreciado na próxima reunião do Conselho Europeu, em 17 e 18 de Fevereiro, que terá de se pronunciar sobre os seus termos sem esquecer a existência do conjunto inicial de condições apresentadas por D.Cameron, num difícil exercício de equilíbrio entre matérias que até agora faziam parte do cerne evolutivo da União que se inferia e infere da sua constituição legislativa, nomeadamente quanto ao conjunto que ficou conhecido como Tratado de Lisboa (finais de 2009).

Matérias que incidem sobre a imigração, livre circulação dos trabalhadores e apoio social a estes e suas famílias, manutenção do estatuto de centro financeiro da City bem como desvinculação de apoios a programas de resgates financeiros de outrem, concorrência e desburocratização, e - bem importante - ausência de participação no chamado "aprofundamento da união".

Analisados os pormenores do projecto apresentado por D.Tusk, constatar-se-à que o pretendido por D.Cameron terá aparentemente colhido uma larga margem de aprovação - mas que não difere muito da situação em que estamos, em que o Reino Unido praticamente actua como se o citado projecto estivesse adoptado e em vigor.

Assistiremos assim provavelmente a mais um espectáculo de "vitórias" em que a União Europeia é fértil, numa teatralização que permitirá a D.Cameron regressar a Londres afirmando - para uso interno e plena aplicação referendária - que as suas reivindicações foram aceites em toda a linha, e que portanto recomendará ao povo que se pronuncie pela manutenção do Reino Unido na União.

Continuando ele, D.Cameron, a fazer o que muito bem entende e que pensa poder contribuir para acalmar os chamados "eurocépticos".

Continuando a União Europeia e os seus 5 Presidentes em exercício a afirmar que o projecto europeu sai reforçado da cimeira de Fevereiro.

Continuando a União Europeia num processo de desagregação política que a levará à sua redução a duas confederações - a do Euro e a das moedas soberanas - e assistindo ao constante imiscuir da Federação Russa e dos EUA nos territórios limítrofes a Sul e a Sueste...

14.Fevereiro.2016.