"Ponto de vista" : Abstenção, participação, e representação.


Abstenção, participação, e representação.

De entre as primeiras reacções à difusão dos resultados das recentes eleições legislativas ressaltou a sensação de se estar perante uma taxa de abstenção anormalmente baixa, tendo-se contudo verificado ao longo do dia que tal não tinha acontecido.

Por outro lado continua a generalidade dos observadores a esquecer o facto de o universo dos recenseados ter desde há alguns anos passado a abranger automaticamente todos os detentores de bilhete de identidade ou de cartão de cidadão, mesmo não residindo habitualmente no território nacional, o que dado o aumento de emigração constatado nos anos mais recentes não pode deixar de influir nas análises de resultados pautadas por percentagens de abstenções, uma vez que não são conhecidos números fiáveis relativos ao movimento migratório nem aos cidadãos que se desloquem a Portugal para votarem.

Assim,  parece ser importante olhar-se para o número de votantes, cuja média desde 1995 tem sido cerca de 5,5 milhões, e se tem mantido relativamente estável.

Deste modo constatar-se-à ter havido agora apenas cerca de menos 175 mil votantes relativamente a 2011, o que poderia ser imputável em grande parte à emigração.

Por outro lado, se tomarmos em consideração a população estimada como residente em Portugal - cerca de 10 milhões - o número de recenseados em idade de votar situar-se-ia em aproximadamente 8,5 milhões, o que já colocaria o nível de abstenções em valores inferiores a 40 %.

Podemos contudo deduzir que a democracia em Portugal continua doente, muito longe das expectativas ocorridas nos anos de 1975 a 1977, havendo porém uma média de 5,5 milhões de eleitores que continua a acreditar na representação política, enquanto 3 milhões se mantêm descrentes.

No entanto sente-se um grande desencanto entre os que se apresentam para votar, e que só poderá ser mitigado através de mecanismos que fomentem a participação política e a consequente melhoria dos partidos e das escolhas que dentro destes são feitas.

E só continuo a ver um caminho: o reforço do Poder Local.

11.Outubro.2015.

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