"Ponto de vista": Laudato si, Francisco.

Laudato si, Francisco.
Louvado sejas Francisco, por teres corajosamente publicado a carta encíclica que começa precisamente com a expressão com que Francisco de Assis iniciou o cântico em que louva a Terra que nos acolhe e a todos os seres vivos, e que passaste a designar por nossa “casa comum”.
Por certo que muitos de nós, não seguidores da tua religião, reconhecerão a justeza das tuas palavras no que elas contêm de universal, compreendendo obviamente que tenhas aconselhado um caminho para a vida associado à tua fé mas ao qual não se sentem inclinados a aderir.
Permite-me porém algumas observações que visam principalmente procurar completar propostas - recomendações – algumas das quais se chocam com conceitos que advêm da interpretação que a tua religião (e muitas outras) fazem quanto a ideias de eternidade e que estão profundamente ligadas a convicções derivadas dos fundamentos das crenças que as marcam.
Começaria então por referir que temos que pensar que mais do que numa casa comum nós estamos num “navio” que voga no espaço e que daqui a alguns milhares de milhões de anos provavelmente naufragará arrastando consigo os poucos seres vivos que ainda porventura nele existam.
E que devemos admitir a possibilidade de num prazo mais curto, que tanto poderá ser de algumas centenas de milhares de anos como de apenas uns poucos milhares, deixar de haver condições para que a vida humana prossiga tal como a conhecemos no seu estádio actual bem como no modo como temos observado a sua transformação desde o início da revolução industrial – e em particular das evoluções informático-robótica e na área das implantações de tipo biológico.
Tais condições, Francisco, podem ser profundamente alteradas caso não sejam seguidos os sábios conselhos que formulas quanto à preservação e aperfeiçoamento da nossa "casa comum", em "causa comum" que permita ganharmos tempo para nos podermos dedicar à nobre tarefa de pesquisarmos soluções que possibilitem a preservação da vida assim que surjam os primeiros sinais de que esta nossa nave poderá vir a sossobrar.
Será talvez ambição excessiva almejarmos medidas abrangentes para um eco-sistema complexo e em constante mutação, mas o Homem pode e deve procurar pelo menos soluções que permitam evitar que a sua espécie se extinga quer na sua versão actual de Homo Sapiens Sapiens, ou quiçá de "Homo Informaticus", pois seria triste pensarmos que poderia desaparecer este tipo de ser vivo, capaz de usar o conhecimento para viver melhor - e eventualmente encontrar uma forma de preservar no espaço a sua espécie quando esta nave, a sua casa comum, um dia naufragar.
Francisco: mostraste um caminho e assumiste-te como um dos maiores dirigentes mundiais - apenas e paradoxalmente limitado pelo teu credo.
Laudato si.
9.Agosto.2015.




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