"Ponto de vista"- Crimeia: jogos de guerra.


Massacrada ao longo dos séculos, a estratégica Crimeia é mais uma vez objecto de tensões  políticas que têm o seu epicentro na coabitação de grupos populacionais antagónicos, em que os principais são por um lado os de origem ucraniana e por outro os de origem russa.

Tal facto mostra como no actual estádio de desenvolvimento da humanidade é ainda difícil a existência de diferentes nações, religiões, ou culturas sob a autoridade de um mesmo Estado, pois em  qualquer momento basta um mero incidente por vezes sem muita importância para se desencadearam conflitos graves.

O caso da Crimeia assume particular importância, pois insere-se ainda nas situações ainda não plenamente resolvidas decorrentes do desmembramento da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, e da demarcação de áreas de influência entre a Federação Russa, a União Europeia, e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) - em que os EUA continuam a desempenhar um marcante papel de direcção, bem acentuado pela recente deslocação para Rota (Espanha) de importantes unidades navais que virão a desempenhar funções essenciais no sistema anti-mísseis em desenvolvimento no leste da Europa e na Turquia (que aliás nunca foi bem visto pela Rússia, a qual até procurou inicialmente colaborar na sua concepção - o que foi rejeitado pela OTAN).

As recentes decisões da Rússia sobre a possibilidades de acções militares na Ucrânia, e em particular na Crimeia, são assim uma tomada de posição que visa assegurar a segurança da sua esquadra baseada na Crimeia, pois é essencial para um acesso mais rápido ao Mediterrâneo e à sua base de Tartus, na Síria, principalmente num momento em que as forças navais da OTAN assumem um papel ainda mais preponderante.

A presente situação oferece contornos de um "jogo de guerra", em que se sabe antecipadamente o resultado resultante de um consenso tácito entre duas potências militares que não estão dispostas a um conflito real (pois teriam muito mais a perder do que a ganhar), com a participação de uma potência económica e com muito menor poder bélico - a União Europeia, em que mediante uma ainda maior autonomia da República Autónoma da Crimeia e novas condições de permanência da Esquadra Russa para além do actual prazo de 2042 se acordará num Tratado de associação comercial com a União, e noutro instrumento diplomático de cooperação entre a Ucrânia e a Rússia.

Não fora a existência de prováveis sofrimentos ainda a ocorrer na actual Ucrânia consequência das acções intimidatórias que cada uma das partes vai tomar, sabendo de antemão que não se tratará de algo verdadeiramente grave, mas que permitirá a "salvação da face", e o presente momento seria interessante de seguir, pois as 3 grandes potências "envolvidas" na situação ucraniana têm a consciência não só do aprendido com o que detonou a guerra de 1914, mas também das grandes diferenças relativamente a 1939.

Porém infelizmente não estamos a salvo de acções extremistas quer de grupos organizados quer de Estados autocráticos com acessso a armas poderosas - incluindo as de natureza electrónica...

2.Março.2014.