"Ponto de vista": Abril - comemorações: nem etárias, nem sectárias.

Temos vindo a assistir a um progressivo desgaste da participação dos cidadãos mas comemorações da data de 25 de Abril de 1974, que se vem limitando a pouco mais do que a uma sessão solene da Assembleia da República e do desfile na Avenida da Liberdade, em Lisboa, sendo notório neste o gradual envelhecimento da média dos participantes, bem como o cambiante político caracterizador das manifestações de opinião nele constatadas e nas intervenções discursivas no respectivo final.

Noutras datas de significado histórico para Portugal, seja em 10 de Junho, 5 de Outubro, ou em 1 de Dezembro, assiste-se apenas a quase envergonhadas comemorações de natureza formal, acrescendo que duas delas deixaram de ser feriados nacionais por razões de aumento de produtividade  nacional que pouco ou nada se terá notado no crescimento (?) do Produto Interno Bruto, que em teoria deveria ter correspondido a 0,4 ou 0,5 % ...

Portugal parece assim ter entrado em profunda depressão e perdido a alegria de viver, e esquecido que a data de 25 de Abril passou a ser designada por Dia da Liberdade.

A liberdade política foi o elemento mobilizador decisivo para uma esmagadora adesão do povo à instituição da democracia, e é em tal máximo denominador comum que se devem fundar todas as manifestações comemorativas de tal data, que poderiam assim contribuir para a recuperação da esperança que mitigue o desânimo depressivo em que nos temos deixado mergulhar.

Compreende-se que os mais jovens, por não terem sentido os tempos cinzentos do "Estado Novo", não se sintam tão motivados a uma celebração de algo que para eles é natural.

Mas compete aos mais velhos acentuar-lhes o que ocorria naqueles tempos, em que as opiniões eram sussurradas e os escritos censurados, e em que prisões, deportações e tortura motivadas apenas por "delito de pensamento" eram lugar comum.

Esperemos deste modo que as próximas comemorações consigam ultrapassar o afastamento entre gerações e as alusões ao momento político, deixando assim de ser etárias e sectárias.

16.Fevereiro.2014.